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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Roteiro para o Destino

Meu celular toca. Observo o (seu) nome do remetente da chamada. Minhas mãos suam e meu coração, que jazia sonolento durante todo o dia, desperta dolorosa e euforicamente. Mil coisas se passam pela minha cabeça antes que eu pegue o celular e atenda. Um convite para um filme, para uma cerveja, uma festa ou qualquer coisa do tipo.
Pronto, toco o celular. Minhas mãos estão trêmulas. Aperto a tecla Send e aguardo a sua voz. Neste instante tudo para. Meu coração, meu corpo inteiro, o mundo todo espera a sua voz, que não tarda a dizer alguma coisa. Nessa hora então meu coração dá uma pontada, minhas pernas bambeiam e tudo volta a ação, mas não como antes. Agora tudo está mais vivo, acelerado, feliz.
" Sim... Sim... Dormir na sua casa? Sem problemas... Claro que aceito. ", então desligo o telefone. Você me faz dois convites; o primeiro é para ir à sua casa onde terá uma festa, o segundo é que eu durma lá. Ambos os convites são aceitos sem pestanejo.
Hora de imaginar o que pode ocorrer na festa e depois dela. Minha imaginação me aponta mil coisas ( umas absurdas, outras beirando o surreal do surreal ).
No noite da festa, tudo corre bem. Eu bebo, você bebe, todos bebem, riem, se divertem, dançam e você, sabendo que gosto de Janis Joplin, coloca o cd dela. Pronto, você está realizando um sonho meu que é ouví-la num som de verdade, na maior altura.
"Cry baby, cry baby, cry baby
Honey, welcome back home
I know she told you
Honey I know she told you that she loved you
Much more than I did

But all I know is that she left you
And you swear that you just don’t know why
But you know, honey I’ll always
I’ll always be around, if you ever want me

Come on and cry, cry baby, cry baby, cry baby

Oh, honey, welcome back home
Don't you know, honey
Ain't nobody ever gonna love you
The way I try to do? "...
E então eu olho para você, que também me olha. Ah, o seu olhar estará doce, sorridente e os seus lábios estão simpáticos (mais do que já são) num sorriso manso, discreto. Então esqueço um pouco a música ( ainda posso só sentí-la, pois a letra numa hora dessas foi-se embora) e então eu sorrio de leve para você também. Mas eu sou fraco e não resisto esse momento tão cinematográfico e maravilhoso que desvio o meu olhar. Movimento-me para o lado e falo alguma coisa com não sei quem que está bebericando o seu copo de cerveja enquanto espera a sua vez de usar o banheiro.
A festa continua, eu, já um pouco mais alcoolizado, relembro aquele roteiro que seguimos a fio. A troca de olhares ao fundo de uma música tão foda como aquela. Eu rio, beberico, rio mais uma vez e começo a imitar um movimento de dança, pacífico( porque a Janis agora está cantando move over ). Novamente você aparece e eu, medroso, começo a conversar com as pessoas, dando umas rápidas olhadas em você, que tenta disfarçar algumas vezes. Sei que tenta disfarçar porque vejo o seus olhos voltando para o seu interlocutor.
Já estou bêbado. A Janis agora está cantandu suave, as pessoas estão indo embora. Restam alguns poucos indigentes conversando ( trêbados ). Alguém tenta se levantar, mas cambaleia e cai no chão. Todo mundo ri.
Agora somos só nós dois. SOMOS SÓ NÓS DOIS! Você volta do portão ( havia levado os últimos convidados até lá fora, agradecido pela presença.) e eu te olho. Você também me olha e sorri. Passa por mim e volta o cd da Janis, mas agora com o volume baixo. Parece-me que é a primeira vez que ouço ele ( mas toda essa ilusão é por sua causa, pois tudo aqui neste instante tornou-se novo e fantástico. O vento que sopra nós parece não ser desse mundo). Eu novamente te encaro e você sorri.
- O quê?- Pergunta, sem graça.
- Nada- Sorrio um riso de sol.
Você se aproxima lentamente.
- Quer dançar?
- Sério?
Você pega as minhas mãos ( coitadas, quase mortas de tão desejosas de você ), me puxa para si e me abraça. Para lá e para cá, lentos. Cabe dizer a música que ela está cantando? É pra dar uma ideia do clima. Litle girl blues.

Trêmulo, todo fogo, eu rio da situação. Você também ri. Peito contra peito, coração sentindo coração. O silêncio entre nós se faz novamente. Deus, será agora? Neste instante a Janis aumenta a sua voz. Deus, é agora!
Nosso beijo ( indescritível )
você me despindo ( porque eu já te despi )
e eu sendo seu ( porque você e a noite já me pertencem agora). Só agora.

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