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sexta-feira, 25 de março de 2011

Eu descobri uma coisa. Talvez não seja descoberta, mas sim uma percepção. Se bem que, quando se passa a saber o que não se sabia, é, de certa forma, ou de forma literal, uma descoberta.
Como é que alguém pode saber que não sabia que não sabia? Quando se pergunta a uma criança, que ainda não aprendeu matemática, quanto é dois mais dois e ela responde que não sabe, pode ser que essa criança nunca tenha parado para pensar sobre aquilo. Aí ela passa a saber que não sabia. Mas há quem sabe que não sabe, mas não corre atrás de saber. Talvez isso seja muito pior do que não saber, pois, às vezes, o não saber não nos é consciente.
O quanto nós não sabemos por não saber? O quanto nós não sabemos por não querer?
Por que dizer que aquilo que eu não conheço ou nunca vi não existe? A senhora de cabelos ralos, óculos fundo de garrafa e manca, que tapava o sol com as mãos não existia. Mas ela existia! Bastou eu vê-la na rua para que passasse a existir.
Eu não existo, mas eu existo. Assim como as outras pessoas, assim como o mundo, assim como Deus.
Tanto a vida quanto o amor são uma descoberta. De repente sente-se, vive-se e você passa a saber disso. Engraçado é que se pode desaprender a viver e a amar. Cá para mim, desaprender a amar é muito pior, pois enquanto eu não sabia a vida, eu não vivia. E eu sei que quando, e se desaprender a amar, sentirei falta. Morto é de nada para nada. Desamar é de tudo para nada.
Muitos, ou todos nós, sem saber, tomam uma mentira como verdade. E depois, quando descobrimos, passamos a desprezar aquilo que tomávamos como verdade. As verdadeiras verdades podem ser tanto dolorosas quanto confortáveis.
O que eu descobri, agora percebo que já sabia, é que ao sentir a leveza da garrafa de café, tomando assim o último gole da madrugada, este tem o melhor, o mais sublime gosto. Uma pena é que os que tomam o último gole de café sem se dar conta disso, não conhece o sabor sublime.

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