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domingo, 27 de fevereiro de 2011

Às vezes sinto um orgasmo no peito. É engraçado você ouvir alguém dizer que sentiu um orgasmo no peito, mas é verdade. Não, não vou escrever entre aspas, pois realmente sinto. Não entendo o motivo de sentir isso; talvez seja o meu inconsciente gozando de algum lado da vida que eu desconheça ou prevendo boas coisas que compensarão todo o hoje.
Há madrugadas em que sou tomado por uma paz que eu desconheço. Por que é que sou tomado por coisas efêmeras e estrangeiras?

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Todos os dias agora parecem domingo, de tão enfadonhos. Acordar já não é vantagem alguma. Se pudesse, permaneceria de olhos fechados, inconsciente, escondido na terra dos sonhos. Quisera eu me perder por lá e sair de vez daqui.
Cansei de todo o dia virar a mesma esquina, ouvir as mesmas piadas, da jaula da escola, do maldito professor esquelético que tenta me ensinar alguma coisa sobre termoquímica, dessa casa desarrumada, de ser ignorado, dessa cidade. Cansei até de mim. Quem se cansa de si é o quê, ou merece o quê?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Subversão ortopédica

Os caminhos desse mundo
não são para os meus pés
que anseiam por outro chão
menos concreto, leve
eles teimam em não querer sapatos
mas o meu medo de pedras pontiagudas
e espinhos ainda me dominam
sapatos irritam
meus pés subversivos
e bêbados
não aceitam mais pisar nas mesmas pedras
das mesmas ruas
do mesmo lugar
querem o novo e abstrato
que nem eu nem mundo
podemos dar.

É, ser.

Eu queria é, não ser. É é infinito, porque é é!

ser é ser, diferente de é, que é.

o universo é

nós ser

eu queria é, não ser.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Arys, ele está morto. Eu bem sei, pois sinto a sua podridão em mim. Ele permanece aqui, decompondo-se. Sente o cheiro? É incômodo, eu sei.
Brutalmente assassinado! Eu vi tudo isso acontecer sem fazer nada. Também, o que podia ser feito? Não havia nada que nós pudéssemos fazer.
Eu tento imitá-lo, hoje. Tento ser a pessoa boa que, como te disseram, ele costumava ser. Pensei que eu estava conseguindo imitar essa bondade, mas tudo indica que não. Desaprendi o que é ser bom.
ELE ESTÁ MORTO, e junto com ele muitas coisas morreram. Acredite em mim, eu não quis matá-lo. Escuta: Envenenaram-no e eu o vi agonizar. Nada podia fazer por ele se não matá-lo, acabar com todo aquele sofrimento. Mas, Ary´s ,ninguém me falou sobre a maldição. Matar a si não traz alívio algum, é até pior. Vê? Hoje sou o que não gostariam que eu fosse e ainda carrego aquela dor que ele sentia.
" Não vale a pena tentar ajudá-lo", alguém te disse, né? Mas eu não pedi ajuda, não mais. A hora da ajuda acabou, não há socorro para os mortos. Talvez eu seja o meu zumbi. Vago por aí me alimentando das coisas podres do mundo dos vivos. Desejo também a carne humana.
Arys, um dia eu tomo coragem e me enterro.
Queria que aquele céu "azul quase noite" tivesse me levado. Eu iria subir lentamente, de olhos fechados, aliviado. Pararia na primeira estrela que encontrasse e lá viveria exilado até o fim de minhas angústias.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Uma ferida, quando curada, deixa cicatriz. Nem todas, é certo. Assim, creio eu, são os homens. Alguns, mesmo depois de curados ( mortos ) cicatrizam-se. Então ele nunca morre, assim como a ferida nunca desaparece. Por mais que a cicatriz não doa, ela é a ferida. Pois mais que a memória não aja, ela é o homem.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Transamérica


Abri a porta do meu quarto e me deparei com duas camas King size, dois criados mudos, dois abajures, um sofá, uma escrivaninha, a tv e a janela de vidro, que me mostrava o céu acinzentado. Não havia ninguém ali, só uma mala ao pé da cama. " Já trouxeram minha mala?", pensei, tentando ignorar o fato de que eu estava sozinho. Sentei na cama, testei a maciez do colchão, sentei na poltrona, liguei e desliguei o abajur, fui à janela e fiquei vendo os carros lá longe. Sentei na cadeira diante da escrivaninha. Ali havia um bloco de notas e uma caneta. Rabisquei um desenho e escrevi: Solidão, companheira, vá embora. De repente eu queria estar em casa. Mais uma vez observei o quarto em seu silêncio inexorável. Liguei a tv pra me sentir menos só.
Então a porta do quarto se abre. Ali surge um rapaz de óculos, alto e magro. " Puta que pariu, deve ser um nerd chato pra caralho", pensei, cumprimentando-o. Naquela mesma noite, mais tarde, vi que eu estava completamente errado. Tínhamos algumas coisas em comum. Enquanto o documentário na tv falava sobre o assassinato de Dália Negra, conversávamos sobre nós. Ora ficávamos em silêncio, olhando a tv, ora falávamos sobre qualquer coisa.
Regina Spektor cantava Fidelity, o relógio dizia que já devíamos estar dormindo e nós novamente estávamos conversando. Toda a timidez se fora.
Já estava amanhecendo quando fomos dormir. Logo acordamos. Quantas horas dormimos? Uma, no máximo. Lucas, agradeço a você, pois de certa forma você foi o culpado por eu ter conhecido com conheci.
Ah, as noites naquele quarto 402... Ainda posso sentir o cheiro do shampoo no pequeno frasco, posso ver o grande espelho embaçado pelo vapor da água quente, posso sentir a banheira sob os meus pés, ouvir o rapaz que tossia sem parar no quarto ao lado, a nossa risada ( agora éramos cinco: Eu, Léoh, Eduardo, Lucas e Igor.
( Maldita queda de energia, tive que interromper o post )
Parece que todas as pessoas que se hospedarem naquele quarto serão atormentados pelo nosso fantasma, pela nossa parte que se recusou a sair de lá. Os hóspedes ouvirão nossas risadas, nossas confidências e se esconderão no edredom.
Você* talvez tenha sido a grande culpa de toda essa minha nostalgia. Que dizer da segunda noite, quando você se deitou ao meu lado? Olhava fixamente para a tv, tentando não ver que eu te olhava. Você, sem graça, pedia que eu parasse, mas não dava, não podia. Meus olhos, meu todo eu foi atraído por você. Eu podia sentir seu calor mesmo não te tocando. Mas não queria apenas o calor, queria me queimar por inteiro. Então te toquei. Meus dedos caminhavam em seu braço, depois meus lábios sentiram seus dedos e...seus lábios! Não posso esquecer que antes disso minhas bochechas ( ah, benditas! ) foram batizadas por eles, macios, úmidos.
Essa Olimpíada se resume a você* e aos meus amigos. Essa Olimpíada representa o orgasmo da felicidade.
Como eu queria que as horas parassem, os pássaros ficassem parados no céu, como se fossem tangram suspensos por uma linha. Afrodite, Afrodite, Afrodite, por que não me acodiu? Os pássaros que não se aquietavam, os passos, os segundos seguindo seu trajeto me feriam. O céu, que é o dono da imensidão sabe o quanto eu quis que tudo parasse. Ele sim deve ter sabido a imensidão que havia em mim naqueles dias.
Ao sol éramos dois, distantes. Em lua, éramos um. Mas eles cobraram os seus serviços. O sol fazia um dia a pós o outro, a lua uma noite após a outra, assim, o tempo passava. O tempo, como odiei essa palavra.
A última noite... A última noite. Perco aqui o ânimo de escrever. Ainda em palavras queria nos fazer eternamente juntos. Nós dois juntos, aproveitando as horas que nos restavam.
- Daqui a pouco tenho que ir também.
Preferia ter me tornado surdo a ouvir você dizer aquilo. Sua voz dizendo tais palavras valeu por 402 mil porradas na cara da alma. Mas eu te queria e dediquei todos os segundos a você.
Lá fora já podíamos ouvir pessoas dizendo adeus. Finalmente você diz que tem que ir. Só eu sei a tempestade que naquela hora se formou dentro de mim. Eu não queria que você fosse. Então nos abraçamos. Bendito espelho, bendito espelho! Você, espelho, que certamente refletiu milhares de rostos, tristes e alegres, jamais refletiu algo como nós dois. Você, espelho, nos refletiu, e aposto que ainda nos guarda na memória. Quando você se quebrar e não mais existir, não se preocupe, eu me lembrarei de você, pois você foi importante, você nos refletiu! Sim, vou repetir: NOS REFLETIU!
E você caminhava pelo corredor em silêncio. Meu peito gritava, você pode ouvir?
Lucas se despediu de mim. Pronto, novamente eu me encontrava ali no quarto sozinho. Sozinho, como eu havia chegado. O quarto já não era mais o mesmo. Me esparramei na cama, buscando o seu cheiro. Cheirei o travesseiro também, pois ele tinha a obrigação de guardar o cheiro dos seus cabelos. Corri para o banheiro, tomei um banho e desci para o salão. Lá permaneci silencioso até que você apareceu. Fui ao seu encontro.
- Até depois. Um dia.- Você me disse em meio a um abraço. Subiu no ônibus e tudo estava acabado.
Novamente tive que enfrentar aquele quarto sozinho.
O café da manhã foi horrível.
A viagem de volta foi horrível.
No ônibus cochilei enquanto minha professora falava sobre qualquer coisa. Num dos cochilos eu ouvi as vozes dos 125 alunos e os rostos à minha volta não eram de desconhecidos, mas sim deles.
- Me desculpe, professora.
Cansado, finalmente adormeci. Cada segundo e quilômetro que passavam nos fazia mais distante. Como desejei morrer!

Fotogrfia tirada por Lucas.
Eduardo, Eu ( de pulseira rosa ),Igor e Léoh.
Dia desses, indo para escola, fui surpreendido por uma senhora. Sua veste a denunciou e logo percebi que era uma cigana.
- Menino lindo, mas muito invejado no amor- Disse umas outras coisas que não me recordo e finalizou- Deixa eu ler sua mão, vou falar o nome das mulheres que te amam. Por um real, filho, eu digo.
Eu ri pra ela e disse que eu não tinha jeito. Na verdade, eu não ri para ela, ri da situação. Se ela soubesse... Bem, ela me pediu um real, mesmo não lendo minha mão, para tomar café. Eu, além de tirar a moeda do bolso, tirei um pacote de chiclete e dei a ela. Atravessei a rua apressado, rindo.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ontem aquele caminho, que geralmente é escuro, estava tingido pela luz da lua. Senti-me tentado a seguí-lo, mesmo sabendo que acabaria no asfalto, que certamente estava banhado pela mesma luz. Se eu resolvesse seguir o caminho do asfalto, onde eu estaria uma hora dessas? Não adianta eu ficar me perguntando, tentando imaginar o que teria acontecido caso eu tivesse feito o que não fiz. O grande problema dos covardes é querer olhar pela fresta da porta ao invés de abrí-la e meter a cara.
O céu ontem estava fantástico. Parecia que a qualquer momento ia acontecer alguma coisa. Talvez a lua fosse se encontrar com o sol, as estrelas fossem se mudar; quem sabe os anjos não estivessem preparando o céu para uma grande rave? Vai saber, só sei que o céu estava fora do comum.
Querem saber? Experimentem ouvir a mesma música o dia inteiro, sem parar um instante. Na vigésima terceira hora entenderão o que eu sinto em relação à vida. Salve a literatura! Salve a escrita! Salve o àlcool!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Todo mundo aqui já deve ter matado alguém. Sim, em pensamento. Isso não faz de nós assassinos também?
" Esse cara tá falando merda", alguém deve pensar. Mas a única coisa que nos difere dos que realmente matam é o ato, a coragem.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Será que sou um vagabundo? Bom, se existir uma prova para saber, por favor me digam, pois quero fazer.
Seria mil vezes mais feliz se eu amanhã, ao invés de ir para a escola, fosse para um bar. Ao invés de ter que ouvir o professor falar sobre raiz quadrada, prótons, densidade demográfica e o diabo a quatro, queria ouvir pessoas falando e uma música qualquer no ambiente ( Tudo bem, não sendo funk, axé e pagode, ficaria mais feliz ainda). Queria que, ao anoitecer, eu estivesse bêbado, ao invés de estar de saco cheio de mais um dia que segue o script tosco.
Sinceramente? Preciso sair daqui.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Estrelas, ecos e nós.

O passado é passado. O presente será passado, o futuro será presente e será passado.
O passado já foi futuro e presente.
O que é presente, já foi um futuro imprevisível. Só Deus Sabe!
O passado não passa. Ele fica onde deixamos, tornando-se presente, acompanhando-nos até o futuro.
O agora é passado a cada segundo que se vai. O futuro é presente a cada segundo que se vem. O presente, o passado e o futuro cabem num só tempo.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Deixo-me em cada noite
em cada sonho
em cada despertar indesejado
em cada ódio ressentido.

Deixo-me em pegadas
em riscos sobre mesas
palavras mal escritas
em pensamentos
sonhos

Deixo-me aos poucos
em cada segundo
pois quero ser eterno
e a eternidade é uma herança.

A cada dia que passa vou me tornando insuportável. Eu já não me suporto. Por que é tão difícil existir? Por que EU tenho que ser assim? Por quê, por quê, por quê...
Se eu pudesse, explodiria o mundo juntamente com suas mentiras. O mundo não é para mim. Nada aqui parece me pertencer ( só as dúvidas e as dores ).
Não quero mais ter que engolir os gritos presos que queimam minha garganta.
Malditos são os pais. Quem pediu pra nascer? Todo mundo deveria ter o direito de escolher entre nascer e permanecer inexistente.



domingo, 13 de fevereiro de 2011

Não sei se os grilos que cricam* pela madrugada são reais ou se são fantasmas. E se forem delírios dos meus ouvidos que resolveram reproduzir o som dos insetos já extintos pela minha maldade infantil? (Como esses bichinhos sofreram nas minhas mãos!). Onde quer qeu eu vá, quando deito, posso ouví-los.
Cri,
cri,
cri.
( Os grilhos americanos devem fazer " Cry, cry, cry". )
Já estou com medo de ir dormir. Só o faço quando realmente estou com sono. Se eu deitar e esperar o sono, os fantasmas, os reais ou delírios dos meus ouvidos cricarão. Às vezes eles me perturbam. Talvez esta seja minha senteça pelo meu crime: ouví-los cricarem* por toda a minha vida, noites e noites. Seus " cris", se traduzidos, significam maldições, insultos e acusações sobre mim. Ao invés de vermes, serei comido por eles. Todos eles devem ansiar por esse dia.
Anseio pela noite em que a voz de alguém soará mais alta que os " cris", por alguém que me devore sem deixar nada para eles.
Agora posso me deitar.
Domingo é um dia para morrer
para ter dor de cabeça
pra matar alguém
pra receber notícias ruins.

Domingo não pode ter outra utilidade a não ser essa. Olha só: Uma amiga da minha mãe comenta alguma coisa sobre o serviço, a televisão- com o volume alto- mostra a platéia gritando e o Gugu narrando um jogo idiota que dará dinheiro para um pseudo famoso. Minha irmã está sentada com o ventilador na cara, meu irmão está bordando ( sim, bordando! ).
Aqui a cidade morre de vez. Se eu sair, verei um vira lata futucando uma lata de lixo ( clássico ), algum bêbado miserável na porta de alguma loja, babando, cochilando, alguma senhora com a bíblia na mão e umas duas ou três crianças tomando sorvete. O sol parece ser mais quente no Domingo. Posso ver aqui da janela o muro tingido de prata.
ODEIO O DOMINGO, O MACARRÃO DE DOMINGO, O FRANGO DE DOMINGO, O SOL DE DOMINGO, A NOITE DE DOMINGO.
DOMINGO é DECADÊNCIA.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Quando eu descobri a vida, ainda não tinha consciência. Mas chorei.
Lágrimas antecipadas. Chorei por mim, pelo céu azul lá fora que abrigava o sol, pela terra sob mim que haveria (haverá) de me envolver.
Não sei como me percebi. Sentia, mas eu simplesmente era alguma coisa que não sabia definir. Quando passei a ter lembranças é que fui me vendo. Ainda hoje não sei me definir.
Em nascimento as lágrimas são nossas, mas em morte são as dos outros. Pode ser nossa também, quando se tem consciência da morte antes de ser-la.
Nasce-se inconsciente e morre-se da mesma maneira.
Luz, escuridão. Ou escuridão, Luz?
A vida é sentimento. Tudo se sente. Quando morremos deixamos de sentir. Ora, a vida é sentimento! Talvez não haja sentido maior do que viver. O sentido que buscam da vida é ela mesma.
Não pode ser. O que sou pra falar dela? Somos ela, mas não podemos dizê-la.
Nossa incapacidade de ver (de ir, de ser) além nos dá o fim.