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domingo, 27 de março de 2011

Ninguém tem culpa por se apaixonar. Os crimes que cometemos sob o efeito alucinógeno da paixão devem ser perdoados. Quem aqui pode me ou nos julgar pelos crimes passionais?
Dizem que a fé é que não deixa as pessoas que andam sobre a brasa queimarem os pés. E o que não faz nossos corações não virarem brasa na incandescência? Eles andam tão apressados... A fé é tão pouca que pode falhar na metade do caminho? A tão pouca coisa talvez explique a passagem rápida e quase devastadora da paixão. Mas que coisa?

sexta-feira, 25 de março de 2011

Eu descobri uma coisa. Talvez não seja descoberta, mas sim uma percepção. Se bem que, quando se passa a saber o que não se sabia, é, de certa forma, ou de forma literal, uma descoberta.
Como é que alguém pode saber que não sabia que não sabia? Quando se pergunta a uma criança, que ainda não aprendeu matemática, quanto é dois mais dois e ela responde que não sabe, pode ser que essa criança nunca tenha parado para pensar sobre aquilo. Aí ela passa a saber que não sabia. Mas há quem sabe que não sabe, mas não corre atrás de saber. Talvez isso seja muito pior do que não saber, pois, às vezes, o não saber não nos é consciente.
O quanto nós não sabemos por não saber? O quanto nós não sabemos por não querer?
Por que dizer que aquilo que eu não conheço ou nunca vi não existe? A senhora de cabelos ralos, óculos fundo de garrafa e manca, que tapava o sol com as mãos não existia. Mas ela existia! Bastou eu vê-la na rua para que passasse a existir.
Eu não existo, mas eu existo. Assim como as outras pessoas, assim como o mundo, assim como Deus.
Tanto a vida quanto o amor são uma descoberta. De repente sente-se, vive-se e você passa a saber disso. Engraçado é que se pode desaprender a viver e a amar. Cá para mim, desaprender a amar é muito pior, pois enquanto eu não sabia a vida, eu não vivia. E eu sei que quando, e se desaprender a amar, sentirei falta. Morto é de nada para nada. Desamar é de tudo para nada.
Muitos, ou todos nós, sem saber, tomam uma mentira como verdade. E depois, quando descobrimos, passamos a desprezar aquilo que tomávamos como verdade. As verdadeiras verdades podem ser tanto dolorosas quanto confortáveis.
O que eu descobri, agora percebo que já sabia, é que ao sentir a leveza da garrafa de café, tomando assim o último gole da madrugada, este tem o melhor, o mais sublime gosto. Uma pena é que os que tomam o último gole de café sem se dar conta disso, não conhece o sabor sublime.

terça-feira, 22 de março de 2011

Tive um pesadelo. Nele, eu pedalava para me encontrar com você. Porra, mas foi tão ruim ter acordado. Até em sonhos não me aproximo de você. Por quê, hein?
Na última vez que te vi, eu estava bêbado. Embriaguei-me ainda mais com a sua imagem. Permaneci no mesmo lugar, te olhando. Queria que você me olhasse, me cumprimentasse. Isso não ocorreu e, num vacilo dos meus olhos, te perdi. Foi embora, levando consigo meu sossego.

domingo, 20 de março de 2011

Não há mais Deus

Matei Deus
agora perdi minh´alma
mas ainda sinto sua imundície
fui condenado a viver no vazio
de preces caladas
não me resta muita coisa
a não ser a ilusão do amor
e quase um nada de poesia.

Minha roupa alegria
está surrada
vês que estou maltrapilho?
Meu teto fé
foi-se com o temporal
vês que a chuva me molha
o sol me queima
e os morcegos me cagam?

Reparo nos pés apressados,
ávidos pelo futuro
enquanto que os meus
tão feios, tão medrosos
tão desesperançados
querem permanecer inertes
e retroceder
até que não mais toquem o chão.

Vês que a minha boca agora está ressecada?
É de sede do que nunca bebi
do que sequer sei se realmente exista
vês a pele arranhada
as unhas gastas?
É a fadiga de existir e
sentir-se inexistente.

Não jogue moedas na minha caneca vazia
ela não carece de dinheiro
preencha-a apenas com a verdadeira verdade
seu verdadeiro sorriso
meu corpo não quer luxo
apenas o toque do que chamam
de amor
sentir seu devoro
para aceitar de uma vez
o dos vermes.





sábado, 19 de março de 2011

Preciso correr, até que meus pés não mais sintam o chão. Correr até que o silêncio se torne a única coisa a gritar à minha volta. Correr até que todas as mentiras, de tão cansadas, desistam de me perseguir.
O que há além do céu? Queria poder estar lá, bem longe daqui. Poder olhar pra baixo e ver a lua. Tão pequena... Ver a Terra sendo devastada pelos parasitas que nela habitaram por milhares de anos.
Queria estar em qualquer lugar que não fosse aqui, onde ouço os meus pais ferindo-se, ferindo-me entre palavras, ameaças. Por que é que existem pais, filhos, gente?
Queria não estar, não ser.

sexta-feira, 18 de março de 2011

quarta-feira, 16 de março de 2011

Das rosas regadas à mentira

tens apenas o perfume iludido

a falsa beleza no jardim

e o tempo que seca as pétalas

matando-a com a verdade

que de tão esquecida

morre antes de tudo.

terça-feira, 15 de março de 2011

Por que não dizer que você se parece um pouco com a lua? Brilhas, é solitária e linda. Te vejo, te devoto à distância. Sinto vontade de te abraçar, te beijar, dizer coisas que te farão sorrir. Também há o seu silêncio que é bem parecido com o da lua. Silêncio de grito, de poesia.
Sei que posso te ferir e tenho quase certeza de que o faria se eu ficasse perto de você. Só de saber que há essa possibilidade já me dá medo. Não quero que isso aconteça. Pior do que não estar com você é te fazer mal.
Sou uma ilusão, alguém que deixou de ser. Desintegro-me, preso em meio aos destroços de esperanças e ilusões desfeitas. Sinto por não poder ser outro e te dar o que você realmente merece. Já sou o meu mal e não posso ser o de outra pessoa.
Estou sendo honesto com nós dois. Saber que você existe, que temos o mar em comum, ameniza o sentimento de culpa, de raiva ( de mim mesmo ).
Acredito e confio em você. Fé e confiança às vezes são duas coisas inexplicáveis, apenas sentimos.
Enquanto escrevo, sinto uma vontade maior de te abraçar e manter o abraço, até que o sol se canse de brilhar, apagando-se de vez, e as estrelas, cansadas de enfeitarem a noite, caiam.
Quero que você encontre a felicidade e que suas lágrimas sejam alegres. Acredite em mim. Esse meu querer é maior do que o meu egoísmo. Não posso receber de você sem poder dar nada de bom em troca. É difícil pedir que não me queira, porque eu te quero. Mas é o que devo fazer.
Peço também que não me odeie. Ao invés disso, me mate. Sabendo que estou morto em você será mais fácil de sair daqui.

domingo, 13 de março de 2011

Bye, bye, bile.

Peguei o ônibus e fui para a casa do meu amigo. Lá bebemos algumas garrafas de heineck, e assistimos aos clipes do multishow, enquanto esperávamos a hora de sair. Percebi que as garrafas verdes estavam exercendo influência sobre mim quando comecei a achar os videoclipes e as músicas interessantes. Meus pés já não ficavam parados no chão. Íamos nos encontrar com a galera e sentar numa mesa de bar. Por fim deu a hora, e eu, cinquenta por cento ébrio, fui me arrumar.
Logo localizamos o grupo sentado na mesa. Fomos até eles, e eu, antes de me sentar, fui ao banheiro. Nessa ida avistei uma garota linda. Usava uma headband com uma flor de pano, tinha um pequeno piercing no septo, usava uma bermuda jeans, curta. Estava parada na porta do banheiro, chamando não sei quem. Por alguns segundos, menos de dez, fiquei hipnotizado. Não podia ficar ali, com aquela cara de bobo (natural), olhando pra ela. Então entrei.
Sentei-me à mesa e logo me serviram um copo. Notei que ali havia um rapaz diferente. Ao lado dele havia uma cadeira vazia. Virei-me para balbuciar alguma coisa com meu amigo, e então vi de soslaio que alguém se aproximava. Um alguém de headband e pircing. Porra, aquela garota estava sentada na nossa mesa! Recompus-me, fitando-a. Me olhou, puxou um cigarro do maço.
- Matheus, quem é o seu amigo?
Em ocasiões sóbrias, eu ficaria na minha, calado, e deixaria que o meu amigo respondesse. heineck, heineck!
Antes que meu amigo respondesse, disse o meu nome, cumprimentando-a. Dei minha mão, ela levantou-se e fomos para o clássico beijinho no rosto. Antes de afastarmos nosso rosto, ela disse " tem o selinho", e então o demos. Alguns olhavam para a gente e riam.
- Por que vocês estão rindo, hein?- Perguntou ela.
- Nada-Respondeu o amigo, olhando pra mim, depois para o meu amigo.
- Ahã, sei.
O nome dela eu não esqueci. É nome de sereia. Ela é toda inesquecível. Fora do convencional.
Continuamos o papo, bebendo.
Numa outra ida ao banheiro, notei que o dono do bar assistia à homenagem ao Cartola. Parei para ver um pouco. Começamos a conversar. Ele, todo empolgado, começou a falar e acabou recitando um verso do Cartola.
" As rosas não falam
as rosas simplesmente exalam
o perfume que elas roubam de ti".
Acho que toda aquela empolgação foi pelo fato de eu ter sido o único a ter parado para prestar atenção no que ele assistia. Engraçado, esse verso não me saiu da cabeça depois.
Depois disso bebi mais e conversei . A menina com nome de sereia desaparecia e voltava. Houve um momento em que começaram a falar de mpb, o que me surpreendeu. Porra, falavam de Tom Jobim! Empolgado, cantei um pedaço de wave.
O bar estava para ser fechado, então nos exilamos para outro, que era do outro lado. A menina havia ido embora de uma vez enquanto eu estava na minha milésima viagem ao banheiro. Naquela altura devia correr mais álcool em minha veia do que sangue.
Blá, blá, blá, risos e mais blá, blá, blá.
O carro da polícia apareceu no bar. Porra, eles iam dar batida ali, e eu estava achando a ideia o máximo. Bêbado é foda, hein? Mas não, a polícia não deu batida. Passou por nós, entrou no bar e retirou de lá um sujeito que dizia alguma coisa que não me lembro agora. Enfiaram-no dentro do carro e foram embora.
Em mais uma ida ao banheiro, encontrei o dono do outro bar. Cumprimentei-o. Ele estava conversando com um outro sujeito conhecido meu. Recitou para nós novamente o verso das rosas. Despedi-me e pude ouví-lo dizer " esse rapaz tem uma cabeça boa". Quando voltei do banheiro, o pessoal já se preparava para ir embora. Havia uma latinha pra mim na mesa. Voltamos pra casa.

Meu amigo batia na porta do banheiro, aparentemente preocupado, me chamando.
-Você tá bem?
- Sim. - Respondi com minha cara dentro do vaso. Fiquei ali por não sei quanto tempo. Ali apaguei, ali acordei. De cara no vaso. Queria ficar pelado. Tirei minha roupa e fui pro quarto onde eu estava hospedado. Fechei a porta. Fitei o ventilador de teto e apaguei.
Acordei. O teto rodava, minha barriga parecia abrigar o mar, e dentro de minha cabeça parecia estar ocorrendo o festival de Woodstock. Que merda! Fui para o banheiro e novamente meti a cara no vaso. Vomitei algo verde e amargo. Tinha que ser ela, minha cara e excelentíssima bile. Me esguelava, mas nada mais saia. Não tinha forças pra levantar. Porra, o banheiro todo se movia. Arrastei-me para o canto, onde havia uma pequena trouxa de roupa, que serviu como travesseiro. Permaneci ali deitado, enquanto tudo se movia. Que merda! Novamente quis vomitar mais daquela coisa amarga e verde. Eu parecia a Regan possuída, de O exorcista, o único filme de terror que me fez medo de verdade. É que naquela época eu acreditava em diabo, céu, inferno e tal.
Precisava de um banho. Engatinhei até o chuveiro. Por um milagre creditado a mim mesmo, alcancei a torneira. Ah, a água! Tentei me levantar, mas não queria fazer força. Só queria ficar ali sob aquela água, parado.
Porra, por que fui beber? Por quê, hein? Caralho, que arrependimento!
Fitei o azulejo. E naquelas manchas intrínsecasas a ele, vi duas figuras. A priemeira era a de um homem falando ao celular; a segunda era a de um anjo obseravando-o. Puta que pariu, eu podia ver aquelas duas figuras ali no azulejo. Viajei ali por um bom tempo, então decidi que precisava reagir. Desliguei o chuveiro, fiz força e me levantei. Enxuguei-me com uma blusa e voltei para o "meu" quarto. Adormeci, acordei. Adormeci, acordei.
Três horas da tarde. Fome, sede. Quase um litro de água, um pacote de chips, imitação de ruffles e uns doces de amendoim.
Depois voltei a dormir.