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domingo, 13 de março de 2011

Bye, bye, bile.

Peguei o ônibus e fui para a casa do meu amigo. Lá bebemos algumas garrafas de heineck, e assistimos aos clipes do multishow, enquanto esperávamos a hora de sair. Percebi que as garrafas verdes estavam exercendo influência sobre mim quando comecei a achar os videoclipes e as músicas interessantes. Meus pés já não ficavam parados no chão. Íamos nos encontrar com a galera e sentar numa mesa de bar. Por fim deu a hora, e eu, cinquenta por cento ébrio, fui me arrumar.
Logo localizamos o grupo sentado na mesa. Fomos até eles, e eu, antes de me sentar, fui ao banheiro. Nessa ida avistei uma garota linda. Usava uma headband com uma flor de pano, tinha um pequeno piercing no septo, usava uma bermuda jeans, curta. Estava parada na porta do banheiro, chamando não sei quem. Por alguns segundos, menos de dez, fiquei hipnotizado. Não podia ficar ali, com aquela cara de bobo (natural), olhando pra ela. Então entrei.
Sentei-me à mesa e logo me serviram um copo. Notei que ali havia um rapaz diferente. Ao lado dele havia uma cadeira vazia. Virei-me para balbuciar alguma coisa com meu amigo, e então vi de soslaio que alguém se aproximava. Um alguém de headband e pircing. Porra, aquela garota estava sentada na nossa mesa! Recompus-me, fitando-a. Me olhou, puxou um cigarro do maço.
- Matheus, quem é o seu amigo?
Em ocasiões sóbrias, eu ficaria na minha, calado, e deixaria que o meu amigo respondesse. heineck, heineck!
Antes que meu amigo respondesse, disse o meu nome, cumprimentando-a. Dei minha mão, ela levantou-se e fomos para o clássico beijinho no rosto. Antes de afastarmos nosso rosto, ela disse " tem o selinho", e então o demos. Alguns olhavam para a gente e riam.
- Por que vocês estão rindo, hein?- Perguntou ela.
- Nada-Respondeu o amigo, olhando pra mim, depois para o meu amigo.
- Ahã, sei.
O nome dela eu não esqueci. É nome de sereia. Ela é toda inesquecível. Fora do convencional.
Continuamos o papo, bebendo.
Numa outra ida ao banheiro, notei que o dono do bar assistia à homenagem ao Cartola. Parei para ver um pouco. Começamos a conversar. Ele, todo empolgado, começou a falar e acabou recitando um verso do Cartola.
" As rosas não falam
as rosas simplesmente exalam
o perfume que elas roubam de ti".
Acho que toda aquela empolgação foi pelo fato de eu ter sido o único a ter parado para prestar atenção no que ele assistia. Engraçado, esse verso não me saiu da cabeça depois.
Depois disso bebi mais e conversei . A menina com nome de sereia desaparecia e voltava. Houve um momento em que começaram a falar de mpb, o que me surpreendeu. Porra, falavam de Tom Jobim! Empolgado, cantei um pedaço de wave.
O bar estava para ser fechado, então nos exilamos para outro, que era do outro lado. A menina havia ido embora de uma vez enquanto eu estava na minha milésima viagem ao banheiro. Naquela altura devia correr mais álcool em minha veia do que sangue.
Blá, blá, blá, risos e mais blá, blá, blá.
O carro da polícia apareceu no bar. Porra, eles iam dar batida ali, e eu estava achando a ideia o máximo. Bêbado é foda, hein? Mas não, a polícia não deu batida. Passou por nós, entrou no bar e retirou de lá um sujeito que dizia alguma coisa que não me lembro agora. Enfiaram-no dentro do carro e foram embora.
Em mais uma ida ao banheiro, encontrei o dono do outro bar. Cumprimentei-o. Ele estava conversando com um outro sujeito conhecido meu. Recitou para nós novamente o verso das rosas. Despedi-me e pude ouví-lo dizer " esse rapaz tem uma cabeça boa". Quando voltei do banheiro, o pessoal já se preparava para ir embora. Havia uma latinha pra mim na mesa. Voltamos pra casa.

Meu amigo batia na porta do banheiro, aparentemente preocupado, me chamando.
-Você tá bem?
- Sim. - Respondi com minha cara dentro do vaso. Fiquei ali por não sei quanto tempo. Ali apaguei, ali acordei. De cara no vaso. Queria ficar pelado. Tirei minha roupa e fui pro quarto onde eu estava hospedado. Fechei a porta. Fitei o ventilador de teto e apaguei.
Acordei. O teto rodava, minha barriga parecia abrigar o mar, e dentro de minha cabeça parecia estar ocorrendo o festival de Woodstock. Que merda! Fui para o banheiro e novamente meti a cara no vaso. Vomitei algo verde e amargo. Tinha que ser ela, minha cara e excelentíssima bile. Me esguelava, mas nada mais saia. Não tinha forças pra levantar. Porra, o banheiro todo se movia. Arrastei-me para o canto, onde havia uma pequena trouxa de roupa, que serviu como travesseiro. Permaneci ali deitado, enquanto tudo se movia. Que merda! Novamente quis vomitar mais daquela coisa amarga e verde. Eu parecia a Regan possuída, de O exorcista, o único filme de terror que me fez medo de verdade. É que naquela época eu acreditava em diabo, céu, inferno e tal.
Precisava de um banho. Engatinhei até o chuveiro. Por um milagre creditado a mim mesmo, alcancei a torneira. Ah, a água! Tentei me levantar, mas não queria fazer força. Só queria ficar ali sob aquela água, parado.
Porra, por que fui beber? Por quê, hein? Caralho, que arrependimento!
Fitei o azulejo. E naquelas manchas intrínsecasas a ele, vi duas figuras. A priemeira era a de um homem falando ao celular; a segunda era a de um anjo obseravando-o. Puta que pariu, eu podia ver aquelas duas figuras ali no azulejo. Viajei ali por um bom tempo, então decidi que precisava reagir. Desliguei o chuveiro, fiz força e me levantei. Enxuguei-me com uma blusa e voltei para o "meu" quarto. Adormeci, acordei. Adormeci, acordei.
Três horas da tarde. Fome, sede. Quase um litro de água, um pacote de chips, imitação de ruffles e uns doces de amendoim.
Depois voltei a dormir.

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