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sábado, 9 de abril de 2011

A paixão e a sua falsa certeza
de eternidade
a saliva alucinógena
dá aos olhos a visão do amor
e aos ouvidos, palavras gastas e ludibriosas
que a alma, drogada e fascinada
encarrega-se de enterrar em si
como o tesouro dos tesouros.

A tal paixão não sou imune
e nem quero ser
há por trás dos lábios
a nascente alucinógena
e palavras decoradas
que agora quero pra matar a lucidez
e esquecer baús desenterrados.

Negar a alma a ilusão da paixão
o faz de conta do eterno
é nunca contar a uma criança
qualquer história em noite medonha
viver sem amar
ou sequer pensar que foi amado
é deixar a hóstia se dissolver
sem nunca tocá-la na língua.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O passado está em meus olhos como uma lente permanente, ofuscando o presente. Se mal vejo o presente, quem dirá o futuro.
Quero me agarrar ao que se foi. Não quero apenas ver, quero reVIVER. Esse meu querer é irracional, mas é o que me resta: querer...
Ó lente... Tropeço no presente, caio, levanto-me e continuo trôpego, sem rumo. Sei que vou cair no grande buraco escuro lá na frente, no futuro. Talvez eu não levante. Se levantar, será para outras quedas. Há queda maior do que a do sonho no chão concreto, duro, inexorável da realidade? Deixem-me entrecego. Quero conservar até o último tombo o passado em meus olhos. Quero permanecer com as cortinas fechadas, escurecendo tudo, tendo pra mim aquelas imagens... Como num cinema eterno.
Deixei um poedaço de mim cair em algum lugar. Tantos pedaços e logo esse! Pior é que não sei onde, e procurar é fácil, mas encontrar é quase impossível. Há tantos lugares para se perder... Perder é mais fácil que encontrar.
Queria te reencontrar, pedaço meu. Não, você não é nenhuma metáfora de paixão. Você realmente sou eu.
Estou desmoronando aos poucos, perdendo-me mais e mais.
Que ao menos alimente os abutres!

domingo, 3 de abril de 2011

Um dia estes meus dedos, que agora teclam ágeis, serão comidos pelos vermes
meus olhos permanecerão fechados para toda a escuridão eterna
não mais verão a feiúra e a beleza
meu coração doente de paixão
se calará conformado
deixando pra trás
o peso da vida
e da ilusão
tum
tu
t
.

sábado, 2 de abril de 2011

Amor deve ser invenção de poeta
ou delírio do meu peito
mas não escrevo pra discuti-lo
longe de mim
é que essa palavra de tão dita
tornou-se comum
gasta
mito!
Eu acho que o sinto
mas fica aqui dentro, guardado
apodrecendo.
Não me dão, nem pegam pra si.
Amor, se existe mesmo
também morre
se não existe
vou chorar em vão?