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domingo, 19 de junho de 2011

Piedade, tempo.

Rogo ao tempo, que é impiedoso
para que não me leve todas as coisas
sei que ele beijará minha face, tateará o meu corpo
transformará em velhas e imprestáveis as coisas que carrego no bolso
as roupas que visto
quero que o tempo chegue depois da minha morte
para que eu possa apoiar minha cabeça cansada sobre o travesseiro daquela noite
quando te abracei pela primeira vez e cruzamos nossas mãos
quando o seu fogo espantou o frio que a noite soprava
e era a música que nos compassava o ritmo.

O tempo levou o ontem e me trouxe o hoje, sem você
e o amanhã, imprevisível, é um mistério
que o tempo se perca em si
e eu me encontre em você.

sábado, 18 de junho de 2011

Os minutos que vão apodrecendo e caindo no chão
farão falta amanhã, ou depois de amanhã, ou daqui a dez anos
quando eu encontrar alguém que me dê amor, que me faça gozar
e então caminharei eufórico e incrédulo por sobre os minutos apodrecidos
meus olhos ficarão loucos ao ver toda aquela podridão que me afeta
e ficarão ainda mais loucos quando verem a sua imagem nua de madrugada
fumando, ou me olhando em silêncio com um sorriso sem dente, ou dormindo.

Em outras noites, enquanto o sonho te iludirá
eu chorarei até que também seja iludido
porque terei consciência de que nossos minutos não são eternos
e que eles apodrecem e caem a toda hora
enquanto dormimos, trabalhamos, ou estamos distantes por alguma razão.

Um dia não poderemos mais andar
porque nossos pés não conseguirão pisar sobre o tempo que passou
a imundície dos minutos podres terão comprometido nossa saúde
e o último minuto cairá podre no chão empesteado por tantos outros
e perguntarei a mim e ao Deus que meu medo criará
quem se esgotará primeiro?